Um olhar universalista, já!
Profundamente marcados pelo pecado, não somos naturalmente livres. Temos uma história e um mundo de relações que nos marcam e nos prendem. Quando as exigências do tempo nos requerem radical liberdade e disposição para construir basilares esperanças, crescem nos por dentro energias espirituais para deixar prisões que nos seduziram e atitudes que nos apoucaram. O que sinto e sofro na experiência pessoal permiti que o transponha para o espaço público.
Um dos passos a dar adquire hoje relevância: promover e educar para um olhar universalista das instituições, abertas aos excluídos em cada contexto. A crise veio apontar para a necessidade de refundar os princípios do Estado, do mercado, do direito, dos meios de comunicação social, das instituições internacionais, a partir de uma perspectiva ética autenticamente universalista, que não seja excluidora de nenhum factor, de nenhuma pessoa ou de nenhum povo. Aqui se insere a luta pela justiça e o combate por uma solidariedade universal.
Para que os mecanismos sociais se desbloqueiem, urge criar um centro de controlo das consequências dos dinamismos da acção colectiva, a partir de um horizonte ético. Este é um desafio da responsabilidade global, pelas consequências das acções colectivas, produzidas pela aplicação dos conhecimentos científicos e técnicos e pelas decisões políticas económicas. Estabelecer pontes entre as universidades, os governos, os empresários, a experiência dos veteranos e a ousadia dos jovens, a dimensão religiosa e espiritual e o equilíbrio do corpo, conduzir a uma resposta inovadora que dinamize a esperança. A função colectiva das instituições cumpre-se na organização e controlo, sem ser obrigados a escravaturas. Para não ser escravos dos processos globalizadores haverá que mudar quer a mente quer os hábitos da nossa vida quotidiana, transformar' as estruturas a partir de um novo horizonte de sentido, em que nos sintamos impelidos pelo afã da justiça e alimentados por uma solidariedade universal, como referimos acima. Com atitudes isoladas não poderemos responder a relações sociais fragmentadas e por isso fomentar múltiplos modos de cooperação constituirá a raiz de caminhos novos. Parar no conformismo do já percorrido ou seguir as tentações das ondas imediatas, criando oposição a medidas criadoras de futuro seria desastroso. Uma dose elevada de participação e um disponível envolvimento dos cidadãos oferecerá vias de renovação. As tarefas são de tal amplitude que implicam mobilização global.
D. Carlos Azevedo
Bispo auxiliar de Lisboa