O sol deste outono que tarda em arrefecer reduz apenas em parte o sentimento de mal-estar geral que se abate sobre Portugal e sobre boa parte da Europa.
Nem sequer a repetição da ideia de que os chineses têm o mesmo carácter para representar o conceito de “crise” e o conceito de “oportunidade” parece servir para consolar adequadamente quem normalmente vê o copo meio cheio.
E, porém, a Terra continua a mover-se, perpetuando o ciclo descoberto por Galileu e cuja afirmação quase lhe custou a vida.
Olhando precisamente para o planeta como um todo, podemos descortinar um sentido geral de equilíbrio. Ou, melhor dito, um sentido de equilíbrio geral. Os países ditos emergentes de facto emergem de uma forma impressionante e única na sua história. A velha Europa arrasta-se, enleada nas suas próprias contradições. O Brasil, “terceiro mundo” até há bem pouco tempo, oferece-se para ajudar.
E aí está: a vida é feita de ciclos, todos o sabemos. Depois do dia, vem a noite. Ao calor sucede-se o frio. Espera-se a bonança depois da tempestade. E, para todos estes exemplos, há um vice-versa. É preciso ter também a noção de que há ciclos longos cuja duração é muitas vezes superior à duração de uma vida das nossas.
Mais do que nunca e perante a aparente impotência perante as coisas do mundo é preciso ter presente a sua efemeridade e, sobretudo, não cruzar os braços: se não podemos ser sol para o mundo, poderemos certamente ser lâmpadas nas nossas casas. E, assim, dar uma oportunidade à esperança que escasseia.
Clara Almeida Santos