E agora, onde vamos?
Numa aldeola algures no Líbano cristãos e muçulmanos vivem lado a lado tentando modernizar o seu sistema de comunicações. Enquanto os mais novos se desdobram por fazer chegar a emissão televisiva a todos, por meios rocambolescos e em sessões comunitárias sob patrocínio do chefe da aldeia, homens e mulheres distribuem-se respetivamente pelo café e a cozinha, onde são aferidas as atualidades locais.
Uma convivência pacífica assente no equilíbrio dos costumes locais que os dois líderes religiosos procuram manter, longe da guerra que há muito assola o país.
Com a primeira emissão televisiva bem sucedida, o acesso a notícias nacionais e uma série de mal entendidos provocam a desavença entre a população. Não obstante o esforço do padre e do imã local, o que começa numa questão externa transforma-se rápida e pretensamente numa questão interna e religiosa. A situação agrava-se com um acontecimento trágico.
É então que as mulheres da aldeia tomam pulso à situação, engendrando um plano insólito para pôr cobro à crispação masculina.
Em 2008, conhecemos pela primeira a obra da realizadora Nadine Labaki com “Caramel”, um tocante e divertido conto sobre o quotidiano de cinco mulheres libanesas num bairro de Beirute.
Agora num contexto rural, Labaki cria um novo retrato de vida no Líbano, conseguindo simultaneamente divertir-nos e levar-nos a refletir sobre os sistemas de comunicação locais e globais; o importantíssimo papel da mulher em comunidades aparentemente lideradas por homens; a força e na fragilidade das relações e, ainda, a parte que a religião toma na cultura de uma sociedade - e vice-versa.
Com uma mensagem positiva que eleva o amor ao semelhante como ponte possível entre contrariedades e diferentes pontos de vista, “E agora, onde vamos?” é mais um manifesto de Labaki a favor do entendimento humano. Nem sempre ágil, mas com grande simplicidade e encanto.
Margarida Ataíde
Grupo de Cinema do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
© SNPC | 09.04.12
Percorrendo diversos festivais internacionais, o filme que estreia a 12 de abril em Portugal mereceu uma Menção Especial do Júri Ecuménico na edição de 2011 do Festival Internacional de Cinema de Cannes.