Tulpan: um ideal na paisagem agreste do Cazaquistão
Na paisagem desolada de um Cazaquistão quase desértico, algures entre os mais de dois milhões e 500 mil quilómetros quadrados por onde se estende um dos maiores países do mundo, Asa é um jovem marinheiro ao serviço da armada russa de regresso a casa. Casa, aqui, significa pouco mais que uma enorme cabana circular feita de paus e panos que alberga a família da irmã, seu marido e três filhos e a todos protege dos ventos agrestes que de tempos a tempos os fustigam.
É ainda o lugar onde os homens retemperam forças depois do árduo apascentar do seu rebanho; onde se trocam notas, que ecoam como pássaros da cristalina voz de Askhat, e notícias, que trágicas e urgentes saem do rádio de pilhas de Beke. É onde o mais pequenino brinca, a Mãe cuida, o Pai trabalha e Asa sonha.
Sonha abandonar a condição de nómada, do mar imenso ou a terra sem fim, e encontrar o seu amor, o seu pedaço de paisagem, fundar o seu próprio rebanho e a sua própria família.
Ao conhecer a bela Tulpan, de uma família vizinha, Asa entrega-se à vertigem do Amor e com uma fé inabalável enfrenta a dureza do dia a dia, firme no propósito de a conquistar.
Interessante documento sobre a remota forma de vida nómada das estepes do Cazaquistão, “Tulpan” é também uma obra de contrastes: opondo-se à desolação de uma paisagem, a sua simultânea beleza; à rudeza de uns, a doçura de outros; à dificuldade de ultrapassar os obstáculos do amor, a extraordinária simplicidade do sentimento em si e a força de acreditar e perseguir um ideal; à crueza de uma morte aqui, o encantador milagre da vida acolá.
Combinando de forma curiosa os géneros documental e dramático, o primeiro tão querido ao realizador cazaque, esta estreia na longa metragem de ficção mereceu a Sergei Dvortsevoy a candidatura e a atribuição, em 2008, de prestigiados galardões como o Grande Prémio de Tóquio, Prémio do Júri do Festival de São Paulo, Un Certain Regard em Cannes e, finalmente, uma Menção Honrosa da Signis (Associação Católica Mundial para a Comunicação) no Festival de Cinema de Cottbus (Alemanha).
Um filme raro de ritmo e proveniência pouco comuns, que só uma boa rabanada de vento de tempos a tempos nos traz!