“Ele chama”
Ele chama
Desde o terceiro mundo ou do primeiro ele chama
Ele chama desde as margens do lago de Tiberíades até à região dos grandes lagos africanos.
Desde Angola até ao monte das Bem-aventuranças
Ele lança o seu convite desesperado e esperançado.
Ele grita e chama
Chama desde a voz de tantas gargantas sem voz
O seu convite esconde-se na melodia suave de uma flauta e no ruído forte de um tambor.
Nos drogados e marginalizados ele chama
Nos Sérvios e nos Bósnios
Nos ucranianos e nos portugueses,
Nos Hutus e nos Tutsis ele chama....
Nos corpos com câncro
Nas pupilas dos milhões de crianças com fome
Nos corredores asépticos de uma clínica privada
E nas longas filas de espera de hospitais não tão limpos
Ele chama....
Chama hoje como ontem
Nas primeiras páginas dos jornais
Em onda curta e em frequência modulada
Pelo telemóvel ou na internet
Ele chama
O seu convite está escrito no rosto do mendigo
no olhar do arrumador de carros,
na angústia do desempregado
e na cara de satisfação do Yupi pós-moderno.
Ele chama
no stop de um cruzamento,
na saída do metro, na estação de autocarros,
e no semáforo da esquina.
O seu grito está no rosto da criança infectada com SIDA
Que fica sem amigos na escola
E em tantas escolas sem professores que gostem dos seus alunos.
O seu convite está nas lágrimas da adolescente prostituída pela família e a sociedade
E na praça pública de uma sociedade canalha.
É uma questão de ler e olhar
Não é tão difícil como decifrar um hieroglífico,
É uma questão de tirar “os óculos de sol” e afinar o ouvido
PORQUE ELE CHAMA!